No artigo anterior, escrevi sobre a crença limitante de que “quem trabalha muito não tem tempo para ganhar dinheiro” e comentei sobre o estudo de Malcolm Gladwell que defende que se tivermos mais que 10 mil horas de esforço e dedicação em determinada área, o que equivale a dedicar pelo menos 8 horas por dia, todos os dias, por 4 anos, conseguiremos ser um gênio ou expert nessa área dedicada.

Você, assim com eu na primeira vez que li essa tese, pode ter se assustado ou até se desmotivado com a quantidade de horas necessárias para se tornar um expert em alguma coisa, até porque dividimos o nosso precioso tempo com inúmeras outras atividades. Então, geraria uma sobrecarga dedicar tanto tempo a uma única área específica. Aqui cabem duas reflexões: foco e metas.

Vamos falar primeiramente de foco. Quando observarmos o que os músicos ou atletas fazem, percebemos claramente a importância do foco. Por exemplo: por mais que um músico tenha um entendimento holístico da música e que até saiba tocar outros instrumentos, ele escolhe focar e se destacar em apenas um instrumento. Um violinista de uma orquestra, provavelmente não tocaria com tanta maestria caso ele fosse convidado a tocar piano ou flauta durante uma apresentação. Da mesma forma, um tenista profissional não seria um campeão se fosse convidado para disputar um campeonato de golf ou de natação.

Nos dois casos citados, temos inúmeros exemplos de pessoas que treinaram mais de 10 mil horas para serem destaques mundiais. Muitos começaram quando criança e, por isso, conquistaram o título mais cedo, como Bethoven, que se consagrou como um menino prodígio e gênio da música, inspirado e obrigado a estudar arduamente pelos seus pais que também eram músicos. Bethoven tem uma história belíssima de muita dedicação e estudo, digna de ser brevemente relatada aqui: ele tinha várias limitações, tanto é que em um conhecido diálogo entre Jerôme Lejeune, um dos maiores geneticistas do século 20, descobridor da Síndrome de Down e defensor da vida, com o médico abortista Monod, durante um debate pela televisão, o professor Lejeune perguntou: “Sabendo-se que um pai sifilítico e uma mãe tuberculosa tiveram quatro filhos. O primeiro, cego de nascença; o segundo, morto logo após o parto; o terceiro, surdo-mudo; o quarto, tuberculoso, e que a mãe ficou grávida de um quinto filho, o que o senhor faria?”. Monod respondeu: “Eu interromperia essa gestação”. Lejeune então disse: “Então o senhor teria matado Beethoven”.

Como nem Monod, nem outro médico abortista estavam presentes na ocasião, Beethoven nasceu. No total, teve sete irmãos, cinco deles faleceram já na infância. Dos filhos vivos, Beethoven foi o primeiro, Caspar o segundo e Nicolaus o terceiro. Com 9 anos de idade, Beethoven foi confiado ao organista Christian Gottlob Neefe. Compôs suas primeiras peças aos 11 anos. Em 1784, era já o segundo organista da capela do Eleitor. Pouco depois, era o violetista da orquestrada corte.

Vamos falar agora de metas. Uma meta está intimamente ligada aos nossos sonhos, e como Steve Jobs certa vez disse: “Sonhar grande e sonhar pequeno dá o mesmo trabalho!” Uma meta bem construída te ajudará a sair do estado atual em direção ao estado desejado em uma velocidade muito maior. Essa clareza de aonde se quer chegar gera uma motivação sem precedentes. É por isso que o coaching está tão em voga na atualidade. Porque ele não só te ajuda a trazer a clareza da meta, como também a traçá-la de maneira correta. Por exemplo: você pode e deve sonhar alto, mas devemos dividir esse sonho/meta em partes factíveis. Uma meta muito grande e aparentemente difícil de ser alcançada pode surtir efeito contrário e gerar uma desmotivação e desânimo no meio da jornada.

Quando comentamos sobre 10 mil horas, pode ter parecido ser impossível ou muito distante da realidade. Mas e se dividirmos essas 10 mil horas em quanto tempo queremos ser expert, além de focarmos apenas no hoje e não no futuro tão distante? É fato que as novas gerações são muito imediatistas e não estão dispostas a esperar muito tempo para alcançarem suas metas, mas essa ansiedade desenfreada pode gerar um alto tributo na sociedade a começar pela expressão: “A pessoa nadou, nadou e morreu na praia”. Melhor é alcançar algum dia do que deixar a ansiedade nos paralisar e não alcançarmos nenhum dia.

Se você tem um sonho de comprar um empreendimento de R$ 500 mil e acredita que essa realidade seja impossível para você hoje, experimente celebrar a conquista de juntar apenas R$ 24 mil durante o ano, que dividindo ainda em partes mais factíveis, você juntará apenas R$ 2 mil por mês e que se você for um autônomo, poderá fazer a divisão por dia de uma média de R$ 67,00. Em uma média de 20 anos, com o rendimento desse dinheiro, você já terá conquistado esse empreendimento que pode ser sua casa própria. Agora parece mais viável, não? Esses cálculos não só tornarão mais palpáveis, como também te ajudarão a mensurar dia a dia ao invés de deixar para a última hora e depois ser pego de surpresa pela não realização e consequente conquista da meta em tempo hábil.

Da mesma maneira, aprender inglês ou eliminar aqueles quilos que se acumularam no Natal, não será da noite para o dia. Um mês é pouco para chegar ao objetivo final, mas é o suficiente para te fazer caminhar em direção aos seus sonhos. Lembre-se: o segredo é um passo de cada vez, como as gotas homeopáticas, que com o tempo trazem resultados concretos. E depois, muita comemoração pelas pequenas conquistas no percurso.

* Tathiane Deândhela é Mestre em liderança pela Universidade de Atlanta, Especialista em Gestão do Tempo, Master Coach Trainer, Consultora de carreira e Executiva Multidisciplinar. Possui curso de Negociação pela Universidade de Harvard. CEO do Instituto Deândhela. Também é diretora de Novos Negócios da AJE Goiás (Associação de Jovens Empresários). Site: www.institutodeandhela.com.br